terça-feira, 26 de abril de 2011

Xico Sá e as Revistas Femininas

Xico Sá é jornalista, escritor, colunista da Folha, parceiro musical do povo do mangue beat, participante do Saia Justa (GNT) e outras 1001 utilidades.
O texto abaixo é do blog.




A gente conhece a mulher pela revista que ela lê. Nessa identidade está guardada todo seu seu segredo. É só ficar de olho na banca ou na portaria –caso das assinantes- para mapear o mulherio do bairro e do prédio. Mulher-Claudia, mulher-Criativa, mulher-Elle, mulher-Marie Claire.

É só ficar de tocaia e inverter a clássica pergunta freudiana: afinal, o que querem as revistas femininas?
As publicações do gênero muitas vezes nos assustam, amedrontam ou simplesmente nos afrouxam a mais irônica das gargalhadas. Sou viciado nelas. A patroa já não agüenta mais me ver fugindo com os seus almanaques para o banheiro.
Aprendemos sempre alguns bons truques com estas sábias brochuras. Das balzacas em chamas da “Nova” às minas mais modernas da “Lola” e da TPM –Trip Para Mulheres.
Às vezes nem carece folheá-las, basta uma lida nas manchetes de capa sob o sol da banca.
Fico meio assombrado, por exemplo, quando vejo que descobriram uma nova posição para o sexo. Como se não bastassem as milhares de combinações do Kama Sutra e de todos os outros compêndios.
Aí estamos falando da mulher-Nova. Confesso um certo medo diante desse tipo de fêmea. Elas têm mais fogo guardado nas entranhas do que todas as personagens de Almodóvar.
O vício das femininas. Chamadas: novos óleos eróticos, novos jogos para esquentar a cama,novos fetiches,vixe!, os mais poderosos cremes antirugas e anticelulites, barriga chapada em 15 dias etc etc.
Mas o que dá preguiça mesmo, só de pensar, são as exigências das novíssimas posições. Daquelas que dão câimbra só de vê o desenhozinho didático, tipo “faça você mesmo”, na página.


Houve um tempo que estas revistas eram bem menos atrevidas. Repare só nestas chamadas de capa das antigas:
“Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, sem questioná-lo.” (Revista Claudia, 1962).

“A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa”. (Jornal das Moças, 1965)

Tem mais, repare só que pérola:

“A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas”. (Jornal das Moças, 1959).

Nem o mais machista dos anúncios de cerva chegaria a tanto.

E o chauvinismo das redatoras _sim, a maioria era escrita por mulheres_ das antigas não ficava só na bebida. O pior vem ai:

“Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa.” (Jornal das Moças, 1957).

Querem mais um mandamento de fé? Então lá vai:

“Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas”. (Jornal das Moças,1957).

E este aqui: “O noivado longo é um perigo, mas nunca sugira o matrimônio. ELE é quem decide - sempre!” (Revista Querida, 1953).

Agora, juro, vou encerrar, que assim já começou a virar galhofa, escárnio... Essa última chamada de capa é de chorar:

“Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite espere-o linda, cheirosa e dócil.” (Jornal das Moças, 1958).

Chega!

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