quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Blog do Wianey Carlet


Faço minhas as palavras do blog do Wianey Carlet...
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Não posso esbarrar na contradição, tampouco desmentir o que já proclamei. Fiel ao meu compromisso com a coerência, reitero a hierarquia que concedo às estações do ano, pela ordem:

1º lugar – Outono

2º lugar – Primavera

3º lugar – Inverno

4º lugar – Verão

E se a gentil mãe natureza inventasse outras estações, a última seria, sempre, o Verão. Não me faltam argumentos para justificar minha desafeição pelo calor. Começo por um histórico e incontestável. Os pioneiros norte-americanos bateram de frente com gelado inverno, circunstância que os obrigou a desenvolver tecnologias para aquecer suas residências, posteriormente aplicadas no processo de industrialização do país. O progresso, portanto, veio do frio. Enquanto isso, os desbravadores brasileiros desembarcaram na calorenta Bahia e sob o sol causticante do Nordeste deixaram-se quedar à sombra das palmeiras, coqueirais, miolos derretidos e músculos abatidos, a espera da chuva e do côco que alimentaria. Nenhuma necessidade de buscar técnicas que produzissem o que já havia em abundância e de graça: o calor. Passados mais de 500 anos, o Nordeste continua quente e subdesenvolvido. É verdade que basta vestir um calção em janeiro e com ele atravessar o ano inteiro, sem a necessidade de trabalhar para manter quatro guarda-roupas, despesa que o gaúcho conhece tão bem.

Mas, o que significa o verão para os aflitos residentes neste extremo meridional do Brasil? A lista de dissabores é extensa.

Gaúcho é louco por mar. Basta o Cléo Kuhn anunciar que a temperatura subirá no fim de semana para que o gaudério comece a preparar mochila e apetrechos que levará para o Litoral. E no fim da sexta-feira e manhã de sábado, lá se vai o distinto cidadão. Lota o carro de familiares, parentes e vizinhos e mete-se nas inchadas rodovias que o levarão até as delícias de um mar cor de chocolate, água fria, nordestão canalha e areias cobertas de cocô de cachorro, papel de picolé, sabugos, etc. Neste paradisíaco cenário ele se refestelará durante o restante do sábado e parte do domingo quando, então, torrado como pastel que passou do ponto, enfrentará algumas horas de exaustivo e exasperante engarrafamento, de volta para casa. Na segunda-feira, comentará com os amigos:

- A água estava uma delícia. Sábado que vem, Cidreira que me aguarde.

O verão também fomenta mudança de hábitos. A gauchinha, depois de atravessar o ano afundando o garfo em lasanhas, massas, big lanches e picanhas, dá-se conta de que o verão se aproxima e é preciso passar por uma recauchutagem corporal que incluirá dietas alimentares radicais e neuróticas horas de malhação. Após algumas semanas de intensa preparação, chega a hora de estrear o biquíni novo. Neste momento, descobre que os esforços dos últimos tempos foram insuficientes. Uma avalanche de pelancas despenca corpo abaixo e a pobrezinha percebe que a camada de celulite e estrias cobre a pele da bunda gelatinosa como reboco salpicado em parede. O desespero que se segue é substituído por uma providência paliativa: troca o biquíni por um maiô apertado e vai saracotear nas areias escaldantes da praia. Boquiabertos, os varões pampeanos são nocauteados pela realidade: aqueles corpinhos modelados pelo jeans, semi-expostos, revelam curvas, aclives e declives que lembram o caminho velho para Vacaria.

Neste verão, espraia-se a grande qualidade do verão: sua transparência. Ninguém mais consegue enganar ninguém.

O bom do verão está em Porto Alegre. Enquanto metade da população se arrasta no trânsito caótico das cidades litorâneas, as ruas e avenidas da Capital estão, deliciosamente, desimpedidas. Não faltam mesas vagas nos restaurantes e sempre se encontrará ingressos disponíveis nos cinemas e teatros, no horário desejado. Como em nenhuma outra época do ano, a cidade justifica o seu nome: Porto Alegre. Ainda que o calorão umedecido pelo Guaíba empurre o sujeito para ambientes refrigerados. Porém, pela falta de população, até passeio em supermercado revela encantos proibidos durante os nove meses restantes do ano.

É fácil perceber que detesto o verão. Se fosse possível uma troca, mesmo radical, eu preferiria um inverno de terras erguidas pela geada, granizo salpicando de pedras nosso chão, neve branqueando telhados e minuano transformando orelhas em congelados pingentes. Qualquer coisa, menos calor de 38 gráus.

EU ODEIO VERÃO!

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